Uma pesquisa recente da Confederação Nacional do Transporte (CNT), em parceria com a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), revela os principais desafios enfrentados pelo transporte público no Brasil. Conduzido com 10.064 pessoas em 2024, o estudo aponta que muitos brasileiros estão trocando o ônibus por veículos particulares.
O levantamento mostra que, entre 2017 e 2024, quase 30% dos entrevistados pararam de usar o transporte público, enquanto 27,5% diminuíram a frequência. As principais razões citadas para essa mudança são a falta de conforto (apontada por 28,7% dos entrevistados), a falta de flexibilidade (mencionada por 20,7%) e o tempo de viagem elevado (um problema para 20,4%). A pesquisa destaca que a pandemia de COVID-19 acelerou essa tendência, levando mais pessoas a optarem por carros e motos. Atualmente, 51,8% dos entrevistados possuem carro e 20,8% têm moto, um aumento significativo em relação a 2017. Esse crescimento, mais evidente nas classes B e C, é incentivado por políticas fiscais que favorecem o transporte individual, resultando em mais congestionamentos e poluição.
Apesar dos desafios, a pesquisa também oferece caminhos para reverter a situação. A redução ou eliminação das tarifas é vista como uma das soluções mais eficazes, com 69,6% dos ex-usuários de ônibus afirmando que voltariam a usá-lo se o preço fosse menor. A tarifa zero poderia beneficiar especialmente as classes C, D e E, que representam quase 80% dos passageiros de ônibus. Outro ponto crucial é o investimento em infraestrutura. O estudo revela que 60,7% dos passageiros aprovam sistemas com faixas exclusivas ou BRTs (Bus Rapid Transit), que tornam as viagens mais rápidas e eficientes. No entanto, o Brasil ainda precisa de aproximadamente 8.900 km adicionais de infraestrutura para atender à demanda das grandes cidades, de acordo com a Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP).
Para Rubens Fernandes, diretor executivo da Associação Valeparaibana das Empresas de Transportes de Passageiros (Busvale), a colaboração entre setores é fundamental. A associação tem buscado dialogar com prefeitos, secretários e vereadores para conscientizar sobre a importância do transporte coletivo. Manoel Adair, presidente da Busvale, reforça que a sustentabilidade do sistema exige um esforço conjunto. Ele ressalta a necessidade de investir em infraestrutura, subsidiar a operação e implementar políticas que priorizem o transporte coletivo. A CNT e a NTU concluem que a solução para os problemas do setor passa por uma abordagem integrada, que inclui desde o escalonamento de horários até o aumento da transparência na gestão. A pesquisa reforça a urgência de colocar o transporte coletivo como prioridade para garantir a mobilidade sustentável e o desenvolvimento das cidades brasileiras.